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Arquitetos: OMA, Zarch Collaboratives
- Área: 700 m²
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Fotografias:Frans Parthesius

Descrição enviada pela equipe de projeto. Como transformar a alta gastronomia de uma experiência exclusiva e passiva de consumo em uma jornada ativa e compartilhada? Seria possível ir além do prazer e inspirar reflexões mais amplas sobre alimentação e meio ambiente, como o uso responsável de ingredientes e o combate ao desperdício de alimentos? O escritório OMA foi convidado a projetar o espaço de preparo e degustação do AIR, em Cingapura, onde essas questões são abordadas.


O AIR está localizado em Dempsey Hill. Hoje um bairro conhecido por sua cena artística e estilo de vida, o local já foi uma plantação de noz-moscada no século XIX e um complexo militar entre as décadas de 1860 e 1990. O terreno do AIR é definido por uma área verde de 4.000 m² e pelo moderno CSC Dempsey Clubhouse, construído nos anos 1970 para lazer e atividades esportivas dos servidores públicos. A natureza local é preciosa: todas as árvores com troncos acima de um metro de diâmetro devem ser preservadas, conforme determina a legislação. Já o edifício do CSC Dempsey Clubhouse, por não ter valor histórico reconhecido, pode ser modificado livremente. Esse contraste levou a uma reflexão: será que devemos preservar apenas o que é considerado significativo e transformar todo o resto? Seria possível valorizar igualmente a natureza protegida e a construção ordinária por meio da arquitetura? No processo, optou-se por fazer intervenções mínimas, a fim de reduzir o desperdício na obra.

No projeto, a natureza existente e o CSC Dempsey Clubhouse tornam-se os elementos centrais. Uma das principais intervenções arquitetônicas é o caminho de 100 metros que conecta o prédio ao estacionamento principal de Dempsey Hill. Esse novo trajeto substitui um antigo caminho estreito e escondido, tornando o clube acessível. Com forma orgânica, o percurso remete à topografia natural e define duas zonas dentro da área verde: de um lado o jardim, do outro o gramado. A partir dele, os visitantes podem acessar diretamente o prédio reformado, que agora abriga o AIR. Também é possível se desviar por trilhas sinuosas dentro do jardim — a horta do AIR — onde é possível aprender sobre o cultivo de alimentos e degustar colheitas. Ou seguir até o gramado, onde ocorrem piqueniques e eventos variados. Ao longo do trajeto, pequenos pátios funcionam como áreas de descanso integradas ao gramado.

O clube é um edifício modernista de dois pavimentos com janelas em fita. No térreo, o novo caminho adentra o interior e define os fluxos de circulação. A principal área de refeições se abre para o gramado. Graças a uma fachada frontal retrátil, o andar térreo antes fechado se transforma em um espaço semiaberto com terraços conectados ao gramado, criando uma atmosfera informal para as refeições. Nos fundos está a cozinha aberta, onde o preparo dos pratos se torna visível para todos. No andar superior, a fachada original foi substituída por painéis de vidro, criando um espaço interno com vista para o gramado. Ali, os visitantes encontram um ambiente mais íntimo para refeições e um laboratório de pesquisa e experimentação com ingredientes, muitas vezes inusitados. Nos fundos, uma escola de culinária permite que todos compartilhem técnicas e saberes ligados aos ingredientes cultivados no jardim.


Outra intervenção importante é o cilindro. Ele concentra os espaços de serviço e apoio, como escadas (para público e funcionários), bar, cozinha e casa de máquinas. Posicionado na parte posterior do prédio, distante da fachada principal, o cilindro indica a convivência entre o novo e o existente. Os móveis e acabamentos do AIR foram desenhados por Andreu Carulla a partir de madeira reciclada e garrafas plásticas (PEAD) reaproveitadas de uma instalação artística, além de isopor — material amplamente usado em embalagens descartáveis. Esses elementos refletem o espírito do AIR: descobrir valor e beleza naquilo que costuma ser visto como resíduo.

Com hortas, piqueniques, caminhadas, preparo de alimentos, oficinas e refeições acontecendo simultaneamente em diferentes espaços, o AIR se configura como um verdadeiro campus gastronômico, onde a experiência tradicional da alta gastronomia é reinventada: em vez de comensais passivos sendo servidos, os visitantes são exploradores ativos, que comem bem, se divertem e aprendem. Uma nova cultura culinária, mais informal e criativa, está sendo construída.






















